Mathias Ariel Jaimes

Análise de filme. A Excêntrica Família de Antônia

Antônia, a protagonista do filme, é a personagem mais jovial, alegre e um quanto hedonista na busca do prazer como estilo de vida. Aceita determinações de familiares e amigos congregando todos eles embaixo do mesmo teto. Antônia não reclamou quando sua filha, Daniele, clamou por ajuda para “trazer um filho ao mundo”. Muito pelo contrário. Ajudou-a em tudo, até na busca do “pai” da criança. Antônia pouco se preocupa em tentar entender o sentido das coisas, simplesmente vive buscando sempre felicidade e harmonia. Aristóteles buscava sempre captar a realidade de forma unitária, no campo do mundo real onde o homem está inserido. A Escola Aristotélica contrariara a ideia platônica que via nas paixões humanas como negativas e que estas precisavam ser controladas pela razão. Para ele, as paixões humanas não são nem boas e nem ruins. Ruim é quando as paixões são viciosas, isto é, quando estão em excesso ou em falta. Ter raiva de alguém não é ruim, por exemplo, pois ruim é aplicar em determinada situação mais raiva do que o necessário ou menos raiva do que o necessário. Nesse sentido, Aristóteles pensa que virtude é encontrar uma justa medida entre o excesso e a falta das paixões. Agir corretamente é um treino constante de dosar corretamente as paixões. Antônia, muitas vezes, exagera nesta forma de felicidade, caraterizada pela Escola Estoica.

O “padre que abandona a batina” e decide forma uma família com Leta, com quem tem 12 filhos, é mais um personagem que se encara neste hedonismo, talvez influenciado pelo estilo de vida de Antônia.

“Dedo Torto” é um amigo da família de Ântonia há muito tempo que vive recluído entre livros. Dedica-se praticamente o tempo todo à leitura. “Dedo Torto” não acredita em religião que, segundo ele, “restringe o intelecto das pessoas”. Terese. “Não é triste que nada existe?”, disse Terese a Antônia após a cena do diálogo com “Dedo Torto”. Platão apontava que o mundo material é um mundo “decaído e alienado, uma reprodução imperfeita, uma imitação mal feita, uma participação ilimitada de um mundo ideal, perfeito, eterno, incorruptível, divino, o mundo das ideias” (Mondina, 2010, p. 226). A lógica do personagem, uma vida triste e imperfeita, se vê na escola platônica. “Dedo Torto”, busca a verdade através do conhecimento de pensadores e filósofos diariamente.

Filha prodígio de Daniele, Terese protagoniza o segundo momento do filme com seu excesso de vontade ao conhecimento. Não acreditava sequer no casamento. Na cena que divide a cama com Simon, filho de Leta, Teresa questiona as paixões e o amor físico. “Casamento seria bobagem, não posso te dar atenção. Mas a gente transa tão bem, não acha? Por isso mesmo”. Enquanto Platão pregava o amor ao conhecimento como forma de alcançar o mundo das ideias, deixando para um segundo plano as paixões terrenais, a Escola Racionalista “via na razão, na pura racionalidade, o elemento caraterístico da subjetividade humana” (Severino, 2000, p. 37).

Bisneta da protagonista e narradora do filme, Sara, questiona constantemente o fim da vida. Sempre tratando o assunto da morte com sua mãe, Terese, e o amigo da família, “Dedo Torto”. A cosmologia e a vida da escola jônica pode ser identificada pela pequena Sara quem, a partir da observação, tira suas próprias conclusões. Nesta escola, o homem apenas como um ser entre os outros que constituem a natureza.

Podemos também afirmar que o Iluminismo se vê caraterizado no relacionamento de “amor platônico” entre “Dedo Torto” e Terese pois é na busca constante do conhecimento que o homem se emancipa da superstição e dogmas, progressando intelectualmente.

Título do filme. Porquê da “excentricidade”. A excentricidade da família de Antônia, como indica o título em português, refere-se ao comportamento pouco usual dos seus membros. No vilarejo em que residem após o falecimento da matriarca todos questiona o “modus vivendus” da família comandada por Antônia, causando amor e ódio em todas as cenas. Esta dicotomia produto de comportamentos diferentes do “normal”, torna a família de Antônia, excêntrica.

O comportamento não-usual da protagonista quem vive um relacionamento com um fazendeiro fugindo da moral cristã do casamento enquanto instituição entre homem e mulher, a imaginação de Daniele e sua neta Sara, que imaginam acontecimentos fora da realidade e enxergam pessoas falecidas, o “intelecto” prodígio da jovem Terese descrevem um pouco a excentricidade a que o diretor do filme se refere no título da obra.

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